Há algumas formas de se fazer literatura relevante e uma delas envolve mimetizar a catástrofe. Os escritores que dão forma às ruínas, rastros e crises que os rodeiam sobrevivem ao tempo. Existem também várias maneiras de se escrever bons contos e muitas delas envolvem cuidar da tensão e da densidade. Afinal, os efeitos de uma narrativa curta se concentram e se equilibram sobre fio estreito: seus poucos elementos, seu breve conflito, sua leitura de uma assentada. Com isso, cada autor que descubra seus caminhos. Lucas Zafalon Garcia, neste livro de estreia, escolheu ser um escritor do limiar. Ou seja, decidiu escavar e representar as zonas limítrofes que compõem nossa realidade e nosso imaginário, feitas de territórios intersticiais onde os seres confrontam ou convivem com seus opostos radicais. Em suas histórias, o lá e o cá, o ontem e o hoje, o dentro e o fora estão sempre em contato ininterrupto, a um descuido (ou a uma atenção) de distância. Assim ocorre nos contos que exploram o colapso entre o mundo aparente e a realidade sinistra que ele oculta (“Às boas e velhas convenções”, “Coisa de criança” e “Gertrude”) na transubstanciação de fórmulas cinematográficas em cotidiano (“Velho-novo oeste”) na hesitação entre o familiar e o desconhecido (“Doce destino”) no trânsito labiríntico que se converte em existência vertiginosa e cíclica (“Casa”) numa simples escada, capaz de converter o banal em insólito (“Teatro do absurdo”). É também na desfiguração dos limites que os corpos se possuem e (des)controlam (“Gado”), que a vida e a morte se consubstanciam (“Epitáfio em dois atos” e “Outras noites vieram”), que as identidades se despedaçam nos descaminhos da memória (“Tal pai, tal filho” e “Sorriso”) e os sujeitos, em escrutínios perversos, descobrem o outro no interior de si (“Eco” e “Narciso”). Seja nas divisas entre metaficção e intertextualidade ("A vida é sonho” e “Um conto de terror”) ou nas demarcações de tempo em staccato (“Tarde demais”), o autor nos conduz por regiões movediças de encontro e perda, enigma e descoberta. Essa poética de elementos discordantes, mas intercambiáveis, também se manifesta na variedade de cenários e perfis humanos que este livro apresenta, dedicado a mimetizar nossas catástrofes afetivas, políticas, sociais e simbólicas em porções precisas de densidade e tensão. O leitor terminará esta obra convicto de que existem, realmente, muitos jeitos de se escrever bons contos e transformá-los em literatura relevante. E estará certo de que Lucas os conhece todos.
Dimensões: 21cm x 14cm x 1cm
Ano: 2021
Edição: 1
Autor: Lucas Zafoni Garcia
Editora: Concha
Idioma: Português
Código de barras: 9786588786017
Número de páginas: 178
Peso: 260 gramas
Encadernação: Brochura
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